sexta-feira, 23 de maio de 2008

Os voos do Moscardo


Dou início à minha actividade de dactilógrafo de ideias, minhas (preferencialmente), perfilhadas ou de outrem, aqui neste Blog.

Estou irritado e um pouco farto da insistência com que os média, mas especialmente uma Senhora Deputada Europeia (portuguesa mas europeia) têm vindo a tratar do assunto – Voos da CIA – como se este assunto fosse de primordial importância para a resolução dos problemas quotidianos dos nativos do rectângulo Lusitano (nativos e habitantes em geral).

O tema é transgovernamental ( inventei e quer dizer comum a vários governos sucessivos ou não de um mesmo país) logo não me parece que seja uma embirração politica da dita senhora, a não ser que ela esteja a embirrar também com o partido dela. Bem desta senhora acho que podemos esperar qualquer coisa.

Vamos por partes.

Vou dar de barato que a CIA ou outra entidade qualquer usou aviões para transportar prisioneiros, terroristas e outros indivíduos. Se os transportaram é evidente que usaram aviões, porque o barco demora muito tempo, e ainda não foi lançado o concurso de construção da ponte Chelas – Nova York, pelo que o comboio e o carro também não são opção.
Está aceite o avião.

Todos sabemos que os aviões têm uma certa autonomia, finda a qual se estraçalham no chão ou na água causando inevitavelmente uma série de mortos, pelo que convém que aterrem em qualquer sítio, normalmente um aeroporto, para abastecer.
Fica estabelecido que os aviões têm que aterrar para abastecer.

Vejamos a questão da soberania nacional. Portugal é um estado soberano, disso ninguém tem duvidas, aliás é por causa dessa soberania que andam aí a levantar estas ondas todas.
Os USA também são um estado soberano.
As instituições dos estados soberanos são reconhecidas pelos demais estados soberanos que entre si se reconhecem.
É também ponto assente que os Estados têm mecanismos de obtenção de informação necessária à sua respectiva segurança.
Ficam estabelecidas a soberania e a segurança nacional.

De acordo com a convenção de Chicago de 1944 e que poderão consultar no site que a seguir se indica AQUI os aviões considerados como de estado podem sobrevoar espaços aéreos de países terceiros e neles aterrar sem grandes formalidades, sem e quando não prejudiquem a aviação comercial.
Fica claro o direito de aterrar.

Temos ainda que juntar uma questão particular. Portugal e os USA têm um protocolo que prevê a cedência por um e o uso por outro de uma base aérea – a das Lajes.

Ora assumindo que a CIA tem os voos, que eles passaram e aterraram em Portugal, que não existe a obrigatoriedade de declarar que “carga” vai no interior, nem quem vai, nem para onde vai, nem de onde vem.

Que pelos protocolos internacionais estes aviões fizeram escalas técnicas, permitidas e mesmo necessárias porque senão caíam.

Fico obrigado a fazer uma pergunta.

Quem me consegue explicar a relevância deste assunto ?

Cá para mim e sem insultos ao Rimsky-Korsakov, isto é mais um voo de moscardo que um voo da CIA.

Senhora Deputada, ocupe-se com coisas que verdadeiramente interessam e deixe o que não interessa em paz.
Entenda que mesmo que V.Exa. tenha razão e que a bordo estavam uns senhores que iam presos e que foram para Guantanamo e que os seus respectivos direitos não tenham sido integralmente respeitados, o melhor é não chafurdar.
Trava-se actualmente, Portugal incluído, uma guerra contra o terrorismo. Uma guerra de informação, de paciência, uma guerra por baixo dos cenários. Mas não deixa de ser uma guerra, e as guerras têm destas coisas não são bonitas, não são justas, não são leais, não são éticas. São guerras, e são sujas.

Digo-lhe com toda a franqueza. Prefiro que os direitos de uma dúzia de indivíduos tenham sido negligenciados que ter que assistir ao enterro de um amigo, ou mesmo ser eu a estrela do funeral, morto por um ataque terrorista.

Espero que não tenha que assistir a um acto destes. Mas se tiver lembre-se nesse dia que a culpa é sua por andar a mexer onde não deve e forçar, a bem de um conceito de liberdade mal medido, quem tem que fazer o trabalho sujo, para que V.Exa. possa armar-se em campeã das liberdades, a abdicar dele e a deixar os inimigos fazerem o que bem lhes aprouver com toda a liberdade.
Acrescenta Pacifico Espirito

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